Êxtase da transformação, Stefan Zweig

Um livro que deixa marcas, que faz pensar.
A obra trata da ilusão, da artificialidade, do efêmero entre o ter e o não ter, que definem posições socioeconômicas e determinadas formas de ser e viver.
O deslumbramento de Christine, a protagonista, com o mundo aburguesado faz com que ela deseje fortemente uma nova vida e uma nova identidade. A transformação, material e psicológica, passa pela "embriaguez da riqueza" (p. 196, 99). Christine deslumbra-se, auto-engana-se, guarda "secreta petulência" (p. 93). Trata-se, no entanto, de uma passagem da ilusão com a riqueza ao ódio pelo "prazer burguês" (p. 198).
O êxtase da transformação promove a descoberta de si (surge o questionamento da própria identidade da protagonista: "quem sou eu?") (p. 198), mas acentua o egoísmo: "ela esquece a todos, menos a si mesma" (p. 102).
Numa forte crítica aos valores burgueses e à desigualdade social, o leitor pode talvez assumir diferentes juízos sobre o "caráter" e os "valores" de Christine:
uma jovem ambiciosa, egoísta, arrogante e, quiçá, ladra.
ou
uma jovem inconformada, indignada com as injustiças sociais, em busca do que é seu, por direito.
O fato é que a liberdade ou a renúncia, a vida ou a morte, a segurança ou a insegurança, passam pelo "poder do dinheiro" (p. 221). Dinheiro esse que traz "status", mas também a ilusão de que todos os endinheirados são felizes e amáveis.
Se, por um lado, Stefan Zweig apontava para a superficialidade da simpatia e cordialidade da vida social de uma elite despreocupada, por outro, parece em alguma medida, valorizar posições sociais, viagens e modos "nobres" de ser (p. 66).
Na segunda parte da obra, Christine relaciona-se como amiga e "cúmplice" de Ferdinand, um sujeito que experimentou os horrores da Primeira Guerra. E com ele aceita "terminar com tudo", pois "é mais fácil que continuar vivendo" (p. 231). Esse é o ápice do romance, pois faz lembrar o fim da vida do autor; e leva a crer que a ideia de suicídio já era pensada por Zweig, pois antecipa o plamejamento da própria morte junto com a companheira, como de fato aconteceu no Rio de Janeiro em 1942.
A morte não como o fim, mas como liberdade (p. 233)... uma liberdade do desprezo do mundo e da péssima literatura: "... já não encontro prazer na leitura. Os romances que hoje se escrevem não me interessam" (p. 199).

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