O motivo - Javier Cercas

 

Essa novela é a primeira obra do escritor espanhol Javier Cercas publicada em 1987 quando o autor contava com vinte e poucos anos.

Um exercício bem interessante de metalinguagem, de metaficção, de autoficção. Essa é uma característica do autor, também muito marcante em Paul Auster e Enrique Vila-Matas.

O narrador é um jovem que procura inspiração para a escrita de seu romance. É como se o narrador fosse o próprio autor revelando ao leitor suas estratégias de escrita, seus processos criativos e o funcionamento da sua capacidade imaginativa.

É genial para quem quer entender, indiretamente, os supostos segredos da escrita e os mecanismos que conduzem ou travam a construção ficcional que se pretende próxima de um “real”.

De início, diz que “qualquer tema é bom para a literatura”, pois “o que importa é o modo de expressá-lo. O tema é apenas um pretexto” (p. 21).

Na trama, o jovem Álvaro subordina sua vida à literatura e seu projeto era escrever um livro tendo por protagonista “um escritor ambicioso que está escrevendo um romance ambicioso” (p. 21). Para tanto, a fim de aguçar seu engenho, busca interagir com seus vizinhos, moradores do prédio onde vive: a porteira, um casal problemático e um idoso. Os modelos reais facilitariam a criação dos personagens do seu romance e sua estratégia de imaginação passa pela escuta e gravação de conversas e brigas alheias. Acredito que este seja um recurso acionado, ainda hoje, por muitos escritores. O mesmo vale para a tentativa de finalização do livro. O narrador-personagem Álvaro “era incapaz de encontrar um final adequado para o seu romance” e decide sair “para passear na luz de outono” (p. 92).  

O título do livro é entendido literalmente ao final, que não revelar aqui, mas pode ser metaforicamente compreendido como a busca por uma boa razão - o motivo - para escrever.

O tom machista aparece nessa obra de Cercas: “ele era incapaz de cumprir os deveres conjugais, coisa que aumentava até extremos de violência a intranquilidade de sua mulher” (p. 32). E ainda: “seu apartamento está (...) um desastre (...) está faltando uma mulher por aqui” (p. 60).

No Brasil, foi publicado em 2005 pela editora Francis e traduzido por Bárbara Guimarães. Com apenas 117 páginas, inclui uma breve nota do autor no início e um posfácio escrito por Francisco Rico.




 

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