Bartleby, o escrevente. Uma história de Wall Street – Herman Melville

 


Tendo por narrador um organizado e “confiável” advogado na casa dos 50 anos, o conto, levado ao pé da letra, gira em torno da personalidade e das atitudes, misteriosas e enigmáticas, do escrevente Bartleby.

            Conhecemos Bartleby pelo olhar do narrador, o qual vai nutrindo pelo escrevente um misto de sentimentos como repulsa, piedade, simpatia e amizade.

            O personagem é um sujeito pálido, impassível (p. 125), que ora parece ser uma construção crítica do autor ao trabalho repetitivo em escritórios de Nova Iorque do século XIX (não é à toa que outros escreventes se alternam entre o bom humor e a impaciência), ora parece beirar à loucura ou ao estado de espírito deprimente. “Bartleby continuava posto à sua janela, num de seus devaneios frente à parece cega” (p. 105).

            O silêncio de Bartleby, a introspecção e a resistência ao trabalho pelo uso constante de respostas como “Preferia não” (não escrever, não revisar, não ler, não sair, etc.) traz à história uma dimensão psicológica. Assim, me fez pensar – enquanto leitor – nos possíveis sentidos dessas recusas do personagem ou mesmo no que estaria pensando o autor quando construiu Bartleby.

            O autor, Herman Melville (1819-1891) era nova-iorquino e publicou Bartleby em 1853, por volta dos 34 anos. Autor do clássico Moby Dick (1851).

      Depois da leitura e dessa minha percepção subjetiva da obra, pesquisei informações sobre a biografia do autor. Se Moby Dick não obteve sucesso em 1851 e a carreira literária do autor tendeu ao fracasso durante seu tempo de vida, certamente Bartleby, publicado dois anos depois, talvez possa refletir sua própria afetação sensível, triste e melancólica. Um recolhimento de Melville, diante da ausência de reconhecimento. Não se pode conhecer uma obra sem conhecer o autor e o contexto em que foi escrita.             

A edição que li, publicada pela editora Autêntica em 2017, é belíssima. Encadernado, com sobrecapa, tradução bonita de Tomaz Tadeu e com inúmeras ilustrações de Javier Zabala.

“Uma das horas mais serenas e sensatas de um homem é de manhã, assim que acorda” (p. 93).  

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