Dama de paus, Eliana Cardoso


Livro breve (126 páginas, editora Nova Fronteira), escrito pela brasileira Eliana Cardoso e publicado em 2019.
Trata de dramas familiares, de desavenças nos/dos casamentos, de infortúnios e sofrimentos femininos diante de homens machistas e de uma sociedade machista/patriarcal e de um exercício de conhecimento de si (o que eu fiz? O que eu poderia ter feito?).
Ainda que a narradora seja lúcida e clara na composição da trama que envolve valores e moralidades típicas da “família tradicional” (heteronormativa, machista, misógina, racista e intolerante), em diversas passagens, assume uma condição pacata e conivente diante de complexas situações narradas. Além disso, mais de uma vez, traz um tom de piedade que, na minha opinião, mais do que humanizar os personagens, inferioriza a figura feminina: “Coitada da Flora” (p. 85).
A trama gira em torno da tentativa de uma mulher madura em desvendar uma morte e um suicídio e, ao mesmo tempo, da experiência da relação homens-mulheres em diferentes gerações que convivem nos anos 1970 e 1980.
A escrita é fluida e a autora tem o mérito de envolver o leitor no percurso das inquietações e dúvidas da narradora. É difícil parar de ler.
Inicialmente, fiz uma árvore genealógica para entender as rápidas referências aos diversos personagens.
Em vários momentos, a crítica ao universo de violência masculina se impõe:
“Todos os homens abusam das mulheres e querem ser tratados como deuses só porque nascem armados para violentar suas vítimas” (p. 43).
“Minha geração atribui aos homens os direitos inquestionáveis dos deuses” (p. 52).
“Hoje, a sociedade continua a mesma e o marido mata mulher infiel como prática normal e necessária” (p. 64).
Se a história busca compreender as dúvidas da narradora (Damiana) sobre as mortes da filha (Flora) e da neta (Marcelina), o leitor também fica com suas inquietações.
Devo dizer que já na página 53 fiquei com a impressão de que Marcelina matou a própria mãe. O não-dito na obra é o porquê. Tenho minha hipótese, a partir da minha interpretação da narrativa: a filha matou a mãe porque se apaixonou pelo próprio pai (ver p. 26). Impressão reforçada em outro diálogo, quando a personagem Marcelina conta que no Egito “irmão podia casar com irmã” (p. 81).



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