Te vendo um cachorro, Juan Pablo Villalobos


Este livro me surpreendeu muito e positivamente. O autor, Juan Pablo Villalobos, é mexicano, de 46 anos (em 2019) e, até o momento, publicou cinco livros, sendo o primeiro intitulado Festa no Covil, em 2010.
“Te vendo um cachorro” (publicado no Brasil pela Companhia das Letras em 2015 com tradução de Sérgio Molina) assume uma perspectiva bastante comum contemporaneamente, a de negar-se enquanto um romance. Frases como “não estou escrevendo um romance” ou “eu não leio romances”, confirmam tal impressão. Diferencia-se dos românticos romances burgueses, pois se “o romance é uma invenção burguesa” (p. 112), não se quer um “livreco romântico” (p. 105). Assume-se revolucionário em um México marcado por contradições políticas e sociais.
A trama envolve e intercala dois tempos: o presente, do narrador idoso, e o passado, de sua juventude nos anos 1950 e 1960, incluindo sua relação com pai, mãe e irmã. Nesse ir e vir temporal, cachorros e baratas são também personagens e assumem diferentes significados metafóricos e literais.
O protagonista/narrador é Teodoro, um homem de 78 anos, morador de um prédio antigo, de três andares, na Cidade do México. A vizinhança é formada por velhos, viúvos/as e solteirões. Uma das vizinhas é Francesca, que lidera um grupo de discussão literária chamado pelo narrador de “Tertúlia Literária”, cujas reuniões diárias debatem a obra “Em busca do tempo perdido”, de Marcel Proust. Com Francesca, Teodoro mantém uma relação quase ambígua, entre o tesão e o ódio.
Teodoro possui um exemplar de “Teoria Estética”, de T. Adorno, com o qual problematiza o cotidiano, além de expressar um senso de humor aguçado. Bebe cerveja, tequila e uísque, gosta de vida boêmia, pensa em “trepadas” e registra suas imaginações em um caderno. Ou seja, Teodoro escreve. Todavia, diz, e reafirma constantemente, não escrever um romance. Com muito humor, o autor remete aos anseios sexuais da velhice e à sua capacidade crítica de leitura e escrita.
“Te vendo um cachorro” é um livro breve, que, inicialmente pode parecer banal, mas que se revela perspicaz, inteligente e hilário. Poderia muito bem ser adaptado ao cinema.



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