A vida invisível de Eurídice Gusmão, Martha Batalha


A obra trata de Eurídice, uma mulher brasileira que, como tantas, teve sufocadas e oprimidas sua vida e sua criatividade em meados do século XX. Mais uma na multidão, uma mulher invisibilizada, uma mulher invisível, no lar e na sociedade.
A autora teve não só uma percepção pertinente do lugar ocupado pelas mulheres de diferentes grupos sociais, especialmente as da classe média, na sociedade brasileira da primeira metade do século XX, como também conseguiu construir uma narrativa recheada de linguagem informal e expressões da época, que atravessaram gerações, como os personagens carregados de manias e características culturais típicas de grupos brasileiros conservadores. Esse foi um dos aspectos que mais me cativou: a capacidade da autora em colocar na escrita termos e expressões coloquiais do universo privado, familiar, cotidiano, íntimo de um segmento social em que o machismo estava naturalizado.
Difícil não se identificar de alguma forma, não reconhecer atitudes patriarcais “tipicamente” brasileiras, não se aproximar e se sensibilizar com Eurídice e seu núcleo familiar.
As situações cotidianas vividas por Eurídice e sua irmã, Guida, podem ou não surpreender e causar incômodo no leitor brasileiro contemporâneo. Surpreende e indigna o leitor que acredita no empoderamento feminino, na força do gênero para ser e viver livre e como bem entender, e que, portanto, espera uma reação das personagens mulheres, torce por elas. Não surpreende o leitor que compartilha daquela moralidade cristã (em geral evangélica), que aceita e acredita que a mulher tem essencialmente um lugar determinado a ocupar, e esse lugar é sempre menor, inferior, submisso.  
Martha Batalha (1973) é jornalista e escritora brasileira. Publicou A vida invisível de Eurídice Gusmão em 2016 pela Companhia das Letras, e Nunca houve um castelo em 2018 pela mesma editora.




Comentários

Postagens mais visitadas